Crisvalter Medeiros
“O poder não é um objeto natural, uma coisa, é uma prática social, e como tal, constituída historicamente” Michel Foucault
A saída dos servidores do Campus do IFPB, em João Pessoa, de forma extemporânea da greve deflagrada pelo SINTEF-PB, em defesa de uma educação de qualidade e da democratização da instituição, tem um significado bem mais profundo do que se pensa superficialmente; o problema está amalgamado nas diferenças históricas das relações que orientam os interesses individuais e coletivos dentro das instituições de ensino superior.
Parte dos servidores do Campus de João Pessoa cônscios da prática ilícita invadiu sorrateiramente, pelos fundos, o auditório José Marques onde acontecia a assembleia da categoria, pela porta aberta por alguns gestores da instituição, para votar contra a continuidade da greve da categoria.
Vergonha. Este é o sentimento que fica da prática dos colegas que macularam o movimento dos servidores públicos federais. Vamos nos beneficiar parasitariamente das conquistas da categoria em nome de uma atitude autoritária dissimulada de legalismo.
Os colegas servidores que abortaram a greve causaram um grande prejuízo à Instituição quebrando a concepção de rede multicampi, faltou sentimento de solidariedade com os companheiros e estudantes dos Campi do interior, que funcionam em situação precária. O comportamento demonstra que não há interesse, não há parceria, não há cumplicidade entre todos os campi da Instituição: existe o Campus de João Pessoa, com suas áreas hegemônicas de excelência, e os demais Campi precarizados e discriminados pela administração central e por parte dos alunos e dos servidores.
Apesar da vulgaridade e violência do comportamento dos nossos companheiros que invadiram a assembleia para abortar a greve, há uma forma de explicá-la. Existe uma distinção histórica entre servidores técnico-administrativos e docentes nas instituições de ensino superior. Os técnicos, reduto no qual me incluo, veem a instituição de forma utilitarista: é o emprego onde ganha-se dinheiro. Isto se dá pela exclusão deste segmento dos processos educacionais, o que nos torna alienados aos objetivos do ensino, pesquisa e extensão; uma questão bastante difícil de resolver. Como toda regra tem suas exceções, também há docentes que se comportam da mesma forma com a instituição: aqueles que estão lá para garantir a aposentadoria, mantendo atividades paralelas em detrimentos da qualidade da educação. Por fim, há aqueles que se alienam mergulhados na autoadmiração que gera um tipo de vaidade doentia.
Não podemos deixar de lamentar o papel de alguns docentes, momentaneamente ocupantes de cargos de direção, que através de “leis, ordens, regulamentos, isto é, as armas tradicionais do soberano” (Foucault), arrogam para si o poder de prejudicar os colegas de profissão.
Por fim, há a pior de todas as espécies que coabitam sobre a terra “o zé ninguém”: o homem comum que faz de si o seu próprio carrasco, que transforma o seu sofrimento e revolta em honrarias e tributos ao inimigo; aquele que é capaz de assassinar até os seus amigos (Wilhelm Reich).
Infelizmente, esta é a instituição que temos e que está permeada pelo egoísmo, pela falta de solidariedade e pelo autoritarismo gerencial ou intelectual que produz verdades distorcidas. Mas, felizmente, não é a instituição que queremos para exercer a nossa cidadania e nos desenvolver enquanto seres de sociabilidade. A instituição que queremos está sendo construída e aos poucos vai sendo revelada.
Aos meus colegas dos Campi do IFPB no interior e aos que tiveram a coragem de ser fiéis ao movimento nacional.
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