terça-feira, 27 de setembro de 2011

A GREVE ABORTADA - PARA ALÉM DAS OBVIEDADES



Crisvalter Medeiros

“O poder não é um objeto natural, uma coisa, é uma prática social, e como tal, constituída historicamente” Michel Foucault

A saída dos servidores do Campus do IFPB, em João Pessoa, de forma extemporânea da greve deflagrada pelo SINTEF-PB, em defesa de uma educação de qualidade e da democratização da instituição, tem um significado bem mais profundo do que se pensa superficialmente; o problema está amalgamado nas diferenças históricas das relações que orientam os interesses individuais e coletivos dentro das instituições de ensino superior.

Parte dos servidores do Campus de João Pessoa cônscios da prática ilícita  invadiu sorrateiramente, pelos fundos, o auditório José Marques onde acontecia a assembleia da categoria, pela porta aberta por alguns gestores da instituição, para votar contra a continuidade da greve da categoria. 

Vergonha. Este é o sentimento que fica da prática dos colegas que macularam o movimento dos servidores públicos federais. Vamos nos beneficiar parasitariamente das conquistas da categoria em nome de uma atitude autoritária dissimulada de legalismo.

Os colegas servidores que abortaram a greve  causaram um grande prejuízo à Instituição quebrando a concepção de rede multicampi, faltou sentimento de solidariedade com os companheiros e estudantes dos Campi do interior, que funcionam em situação precária. O comportamento demonstra que não há interesse, não há parceria, não há cumplicidade entre todos os campi da Instituição: existe o Campus de João Pessoa, com suas áreas hegemônicas de excelência, e os demais Campi precarizados e discriminados pela administração central e por parte dos alunos e dos servidores.

Apesar da vulgaridade e violência do comportamento dos nossos companheiros que invadiram a assembleia para abortar a greve, há uma forma de explicá-la. Existe uma distinção histórica entre servidores técnico-administrativos e docentes nas instituições de ensino superior. Os técnicos, reduto no qual me incluo, veem a instituição de forma utilitarista: é o emprego onde ganha-se dinheiro. Isto se dá pela exclusão deste segmento dos processos educacionais, o que nos torna alienados aos objetivos do ensino, pesquisa e extensão; uma questão bastante difícil de resolver. Como toda regra tem suas exceções, também há docentes que se comportam da mesma forma com a instituição: aqueles que estão lá para garantir a aposentadoria, mantendo atividades paralelas em detrimentos da qualidade da educação. Por fim, há aqueles que se alienam mergulhados na autoadmiração que gera um tipo de vaidade doentia.

Não podemos deixar de lamentar o papel de alguns docentes, momentaneamente ocupantes de cargos de direção, que através de “leis, ordens, regulamentos, isto é, as armas tradicionais do soberano” (Foucault), arrogam para si o poder de prejudicar os colegas de profissão.

Por fim, há a pior de todas as espécies que coabitam sobre a terra “o zé ninguém”: o homem comum que faz de si o seu próprio carrasco, que transforma o seu sofrimento e revolta em honrarias e tributos ao inimigo; aquele que é capaz de assassinar até os seus amigos (Wilhelm Reich).

Infelizmente, esta é a instituição que temos e que está permeada pelo egoísmo, pela falta de solidariedade e pelo autoritarismo gerencial ou intelectual que produz verdades distorcidas. Mas, felizmente, não é a instituição que queremos para exercer a nossa cidadania e nos desenvolver enquanto seres de sociabilidade. A instituição que queremos está sendo construída e aos poucos vai sendo revelada.

Aos meus colegas dos Campi do IFPB no interior e aos que tiveram a coragem de ser fiéis ao movimento nacional.

sábado, 24 de setembro de 2011

IVANILDA GENTLE VOLTA AO IFPB COM PROJETO PARA RESSOCIALIZAR OS DETENTOS PARAIBANOS

Visão Crítica

Da esquerda para a direita: Ivanilda Gentle, Edelcides Gondim, Secretário Harrison Targino, Reitor João Batista



Crisvalter Medeiros (jornalista)

Para quem não teve a oportunidade de acompanhar a trajetória da servidora Ivanilda Gentle na Instituição, ela foi diretora do Campus João Pessoa, quando ainda CEFET-PB, na gestão do professor  Rômulo Gondim. Ivanilda viveu momentos difíceis de sua vida profissional na Pró-Reitoria de Extensão do IFPB, na gestão da professora Edelcides Gondim.


A servidora Ivanilda Gentle era coordenadora do Projeto Casa Brasil que foi aprovado, na sua primeira edição, na gestão do professor Rômulo Gondim. Não se sabe o porquê, mas o fato é que o projeto não conseguiu caminhar sob a coordenação da servidora Ivanilda Gentle, na gestão da professora Edelcides Gondim, atual ocupante da Pró-Reitoria de Extensão do IFPB.


Com a saída da servidora Ivanilda Gentle do IFPB, uma nova versão do projeto Casa Brasil foi enviada à agência de fomento, foi aprovada e está em plena execução. Atualmente, com outro coordenador à frente, o projeto conta com o apoio irrestrito da Pró-Reitoria de Extensão, sendo um dos mais bem sucedidos da instituição. Alguém poderia me explicar que tipo de comportamento é esse da Pró-Reitora de Extensão do IFPB?


Para quem não conhece os meandros do exercício do poder no IFPB, Ivanilda não conseguiu apoio para o projeto Casa Brasil, simplesmente por não compor as hostes do atual grupo político hegemônico na instituição. Pelo que consta, a servidora experimentou muita frustração durante o período em que resistiu e permaneceu à frente do Casa Brasil. Como a pressão contra ela era insustentável, a servidora decidiu ficar à disposição da UFPB, integrando a equipe de um programa de Defesa dos Direitos Humanos.


Quem tem competência se estabelece. O desdobramento do episódio é que Ivanilda foi convidada pelo Governador do Estado para ocupar o cargo de Gerente Executiva de Ressocialização da Secretaria de Administração Penitenciária. Recentemente, a servidora acompanhou o Secretário da Administração Penitenciária, Harrison Targino, numa audiência no gabinete do reitor do IFPB para propor uma parceria, possivelmente com a Pró-Reitoria de Extensão, para desenvolver um programa de ressocialização de detentos paraibanos.


A exclusão da servidora Ivanilda Gentle, de forma bastante dissimulada, como é prática da atual gestão do IFPB, não adiantou. Ela deu a volta por cima, e em grande estilo. A servidora Ivanilda Gentle nos dá uma grande lição de humildade e compromisso social retornando à instituição que negligenciou suas competências profissionais com um projeto visando, única e exclusivamente, beneficiar um dos segmentos mais desprestigiados da sociedade: os presidiários.


Moral óbvia ululante da história: A instituição pública não deve ser administrada como propriedade privada, pois a sua função pública sempre se impõe.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Servidores dos Campi de Cajazeiras e Sousa debatem o IFPB que somos e o IFPB que queremos

Servidores do IFPB em atividade de greve


Dando prosseguimento à programação da greve dos servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), o servidor Gilvandro Vieira articulou junto ao Comando de Greve Estadual um debate nos Campi de Sousa e Cajazeiras sobre o “IFPB que somos e o IFPB que queremos”.

O evento, realizado na última quarta-feira (21.09), contou com a participação da professora Vania Medeiros, coordenadora do Centro Regional de Referência (CRR-IFPB), do professor Thadeu Matos, da Coordenação de Assuntos Socioculturais do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Educação Básica e Tecnológica da Paraíba (Sintef-PB) e do servidor Crisvalter Medeiros, lotado na Pró-Reitoria de Extensão.

CAMPUS DE CAJAZEIRAS

O evento em Cajazeiras foi realizado no auditório do Campus, pela manhã, com a participação de técnicos, professores e profissionais da comunidade, a exemplo da titular da Delegacia da Mulher, representante do 6º Batalhão da Polícia Militar, integrantes dos CRAS-Centro de Referência em Assistência Social e do CREAS -Centro de Referência Especializado em Assistência Social e do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial.

O grupo foi recepcionado pelos servidores Emerso Lunguinho e Alberto Santos que fizeram uma explanação sobre os desdobramentos das negociações do comando nacional de greve junto às instâncias superiores da Educação e do comando local com a Reitoria.

Em seguida, a professora Vania Medeiros fez uma explanação sobre o desenvolvimento da extensão no mundo e no Brasil. A professora também apresentou o Programa de Prevenção ao Uso de Drogas na Escola – Rede Viva, que foi implantado na Instituição em 2005, gerando outras iniciativas na área, a exemplo do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Dependência Química (NETDEQ) e o Centro Regional de Referência (CRR-IFPB).

A professora ressaltou que o CRR-IFPB teve uma ampla repercussão no âmbito da Rede Federal de Educação Tecnológica, principalmente na SETEC, gerando políticas públicas na área da Educação Profissional e Tecnológica, a exemplo de um Campus especializado nessa área em São Sebastião, Brasília-DF; com a possibilidade da implantação de outros campi na Rede.

EXCLUSÃO CURRICULAR

O servidor Crisvalter Medeiros fez uma explanação sobre o sub-aproveitamento dos servidores técnico-administrativos de nível superior nas instituições de ensino superior, onde esses profissionais desempenham apenas atividades de apoio ao ensino o que, muitas vezes, gera exclusão curricular. A situação, que não tem nenhum tipo de gerenciamento no IFPB, bem como na maioria das instituições de ensino superior do país, causa frustração na vida profissional e adoecimento dos técnico-administrativos.

Segundo o servidor, a superação desse problema pode acontecer através da implementação das políticas de pós-graduação, extensão e pesquisa, além de outros instrumentos de capacitação adequados e estímulo para que os servidores sejam inseridos nos processos educacionais das instituições e possam contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, sendo coparticipantes do processo de desenvolvimento humano, econômico e social das comunidades.

O professor Francisco Tadeu reforçou a necessidade de se gerenciar melhor a questão da participação dos técnico-adminsitrativos no currículo da educação. Matos explanou sobre os problemas sociais relacionados às drogas, principal as lícitas.

A parte mais significativa do evento foi o debate com a platéia, momento em que alguns servidores do Campus de Cajazeiras aproveitaram para fazer verdadeiros desabafos sobre a insatisfação profissional dentro da instituição pelo sub-aproveitamento de competências, o que gera exclusão curricular de habilidades importantes para a melhoria da educação. O servidor Filipe Medeiros se revelou totalmente frustrado e adoecido após 15 anos de relacionamento profissional no Campus de Cajazeiras.

CAMPUS DE SOUSA

No período da tarde, o grupo participou de atividade educativa realizada no auditório do Campus de Sousa com a participação de professores, técnicos e profissionais da sociedade local. Em decorrência dos problemas sociais relacionados às drogas que também já podem ser vistos até nas comunidades rurais da Região. Em decorrência da identificação dos docentes daquele Campus com a extensão, ficou acertado a realização de contatos posteriores à greve com o objetivo de se desenvolver alguma ação de prevenção em parceria com entidades locais, a exemplo da Prefeitura e Conselho Tutelar. O servidor Alberto Santos ressaltou a importância do CRR se aproximar daquele campus. Também foi discutida a relevância da inclusão desta temática no currículo dos Programas Especiais da Instituição, a exemplo do CERTIFIC.

O problema da frustração profissional de técnicos de nível superior em decorrência da exclusão curricular também identificado no Campus de Sousa. O público participou de forma entusiasmada do debate sobre o problema do uso de drogas na sociedade.

 O debate

terça-feira, 13 de setembro de 2011

COM O PRETEXTO DE MANTER O FOCO NO QUE REALMENTE IMPORTA: AS PRÁTICAS DE GESTÃO NO IFPB

A pessoa cuja autoridade é respeitada exerce com competência a tarefa que lhe foi confiada pelos que lhe conferiram tal autoridade... O poder, de um lado, e o medo, de outro, são sempre os esteios em que se apoia a autoridade irracional. Erich Fromm

Faço essa citação como pretexto para comentar a resposta da Pró-Reitora Edelcides Gondim ao documento de minha autoria publicizado no site do SINTEF-PB. Não me referi, no texto, à professora Edelcides Gondim, mas à gestora da Pró-Reitoria de Extensão do IFPB.

A pró-reitora habilmente tentou dissimular o fato grave relacionado ao comportamento, não apenas dela; mas de parte da equipe gestora.

Esta não foi a primeira vez em que a pró-reitora se dirigiu a mim, que também sou professora desta Instituição, de forma autoritária. Não sei se esse comportamento é uma decisão dela ou se ela cumpre ordens. Fico confusa porque custo crer que ela não seja capaz de ver o valor acadêmico e social de nossas iniciativas, algo que em alguns momentos ela expressa. 

Divido com meus pares algumas situações a que estive exposta para que possam me ajudar a entender se se trata de um constrangimento por razões exteriores ou por necessidades interiores, como ela  insinuou em documento enviado pelo SINTEF-PB. Digo isto, porque, na verdade, desconheço motivos que justifiquem a forma como a pró-reitora tem me tratado, exceto por perseguição política e tentativa de impedir a projeção do meu trabalho. E a quem isso interessa?

Logo nos primeiros dias da campanha passada, quando nós ainda trabalhávamos a possibilidade da candidatura do professor Rômulo Gondim, a pró-reitora me chamou ao seu gabinete, de forma desrespeitosa e acintosa, com o Plano de Trabalho do Netdeq, para 2009, em mãos, e me cobrou ações de prevenção nos campi do IFPB, ações essas que eu já tinha feito articulações e acertos, mas por falta de autonomia financeira da Pró-Reitoria e dos campi, não fora possível realizá-las. Disse-me sem rodeios que havia apoiado a criação do Netdeq, mas que não tinha visto resultado, empunhando o documento escrito por mim. Reagi mostrando as razões pelas quais isso não fora possível. Lembrei inclusive o fato dela própria não poder ter feito muito pela extensão na rede multicampi fato com o qual ela concordou no momento. A sua incoerência entre o que ela diz e faz mais uma vez me deixou sem respostas acerca de seu apoio. Ao mesmo tempo em que reconheceu a fragilidade da Política de Extensão, naquele momento, cobrava-me ações que nem mesmo ela fora capaz de fazer. Sai desta reunião constrangida e como sou resiliente tentei reafirmar articulações feitas com o campus Picui, mesmo sem apoio substancial.  

Estávamos nestas articulações quando o professor Rômulo saiu da campanha e eu assumi a liderança. Logo depois recebi a resposta da Diretora do campus de Picui, a Professora Verônica, informando que eu não poderia ir lá, uma vez que estava candidata. Questionei porque o reitor tinha acesso ao campus e eu não poderia ter: A ida dele é justificável , porque ele é reitor, e está a trabalho! Disse a Professora Verônica. E nunca mais voltou a falar do assunto. Digam-me o que isto significa? 

Constrangimento por meios externos ou por necessidade interior. Respeito a regras eleitorais ou manobras autoritárias?

O que mais me constrangeu no episódio recente foi que a pró-reitora não moveu uma palha sequer para apoiar nossa ida aos campi, como estava previsto em Plano de Trabalho, mas cobrava nossas ações. Digam-me  o que isto significa? Também não apoiou as nossas últimas iniciativas do projeto do Centro de Referência Regional que coordeno. Na época, cometeu a tentativa falha de desviar o projeto para a Pró-Reitoria de Ensino. Depois do projeto pronto, por telefone, sugeriu que este projeto fosse enviado pela Diretoria de apoio ao Ensino, uma proposta fora do contexto do edital, que era da área da extensão, com o objetivo único de me manter sob controle. Como não abrimos mão, ela teve que fazer um ofício ao presidente da Funetec solicitando o envio do projeto à SENAD. Fiquei surpresa quando o presidente da Funetec disse que ela não havia falado com ele e desconsiderando o documento a princípio  se negou a enviar o projeto alegando dificuldades técnicas com o SICONV.

Como eu tinha uma articulação com a UFPB, a Funape, que é a fundação de apoio daquela instituição, assumiu o compromisso de enviar o nosso projeto. Neste momento estabeleceu-se um conflito. Não seria muito interessante para a Reitoria do IFPB uma professora da instituição ter que enviar um projeto de extensão por outra instituição por falta de apoio e interesse dos seus gestores.

Durante o conflito que se estabeleceu, e que foi difícil de resolver, a pró-reitora simplesmente se ausentou do processo e o chefe do departamento de extensão, o professor Guilherme, assumiu o status de pró-reitor, na solução... Conseguimos enviar o projeto, que foi aprovado e elevou a condição de nossas ações para a Política Nacional sobre Drogas. Através da FUNETEC o projeto está em andamento e com muita repercussão. Destaco que, fazer projetos em nossa instituição, muitas vezes significa atrevimento, esperteza e desobediência a hierarquias, tendo em vista as concepções de gestão e as barreiras impostas nas Políticas Institucionais, que não se adequam aos modelos de produção acadêmica e prazos, que sempre são imprensados.

Relato ainda que, no dia posterior ao envio do projeto a Pró-Reitora mais uma vez me causou constrangimento, quando me abordou  de forma desrespeitosa, na porta de sua sala, fazendo referências a um recado do reitor que, para enviar projetos tinha que ser com tempo suficiente para uma análise técnica de setor financeiro. Enfatizando de forma autoritária, que isto não se repetiria.

Resumindo, a pró-reitora, na verdade, talvez em alguns momentos tenha tido um interesse em apoiar o projeto, ou não. As questões relativas ao modelo de gestão estabelecido no IFPB não me deixa decidir com clareza. O fato é que quando o trabalho começou a ser reconhecido em âmbito federal, ela, de forma acintosa, me chama ao seu gabinete e diz: “Esse Centro está indo longe demais e agora estamos interessados nele”. E mais: de forma dissimulada insinuou transferir o projeto para outra instituição, que tivesse a área de saúde. O que constrange é entender que tudo isto é apenas ameaça, pois ela não teria como executar nenhuma destas ações.

Por outro lado, com o seu trocadilho entre texto e pretexto, a pró-reitora tenta desviar a atenção do verdadeiro motivo do documento que foi publicado pelo Sindicato: denunciar um episódio de abuso de autoridade a um dos seus sindicalizados. 

O que quero com a minha exposição é dar a esta instituição subsídios para se discutir modelos de gestão que garantam a autonomia política e acadêmica, além da democratização dos processos administrativos e financeiros, com a construção do respeito mútuo e as garantias de direitos individuais e coletivos, que é a base de uma educação para a liberdade de expressão e de criação. Desafio a professora a explicar estes atos esclarecendo-me se ela realmente acha que há necessidade de controle de minhas ações ou se apenas está cumprindo ordens superiores.

Encerro com Einstein: Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer. (Einstein – Como vejo o mundo)

Vania Maria de Medeiros

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO DO IFPB, EDELCIDES GONDIM, FAZ REUNIÃO DE INTERROGATÓRIO À PROFESSORA VANIA MEDEIROS E CAUSA CONSTRANGIMENTO

Sou convicta do meu valor enquanto “ator” da construção de uma educação dialógica nesta Instituição. Como diz Paulo Freire o diálogo "impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu significado enquanto homens", já que estes, como seres na busca constante de ser mais, reconhecendo sua própria condição de inacabamento, vão ao encontro do outro, numa busca que "deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências".

Então quero trilhar o caminho certo indo ao encontro dos meus pares para sugerir uma parceria intercultural no exercício dificílimo de construir conhecimento como “contemplação da prática”, a minha, a nossa e a dos gestores do IFPB. Para isto apresento-lhes uma experiência:

Faço parte de uma instituição que convive sob o estigma do medo da desobediência, medo do conflito, medo do diálogo, medo da pró-atividade, medo da transparência acadêmica e administrativa. Esta comunidade acuada se defende da incapacidade do exercício político afirmando que “roupa suja se lava em casa” ou “tenhamos zelo pela nossa unidade” ou ainda acusando de “perigosos” os que aprenderam a defender suas posições políticas e  expressar a liberdade de pensamento.

Foi para este contexto institucional que a vida me trouxe. Quando terminei o doutorado, cheia de entusiasmos e projetos, retornei para uma instituição em crise e me deixei afetar por ela. Naquele momento, guardei meu diploma de doutora, pesquisadora e fui coordenar um curso técnico em recursos naturais (como era denominado naquele momento). Esta era a demanda, tentei tirar meu diploma do armário, participei de projetos de fomentos à educação, sem obter sucesso; a coordenação me tomava muito do meu tempo e não havia grupos de pesquisa estabelecidos na minha área. Para continuar atualizada eu teria que ter me mantido pró-ativa em um grupo de pesquisa na universidade. Naquela época, o modelo da academia era bastante propicio e favorável, mas predominava alguma confusão de papéis acadêmicos, quase uma constante nessa instituição. Com dificuldades de reconhecer o espaço ao qual eu pertencia, disse em uma assembléia, de forma ressentida, que não iria dar aula no ensino médio.


O meu conflito não era de rejeição a esta modalidade de ensino, mas de quem não estava cumprindo um papel produtivo na instituição à altura da minha titulação: defendia a criação de cursos superiores e a implantação da pesquisa. E eu de forma inadvertida assumi este problema como meu, isoladamente. Paguei um preço alto por isto, porque não reconhecia, ainda o lugar onde eu estava: uma instituição autoritária e sem a prática do diálogo. Os doutores recém-chegados, não se organizavam para discutir que políticas de pesquisa desejariam implementar na instituição e, os poucos, iam desanimando, se acomodando ao marasmo institucional ou, como último recurso, se reintegravam em grupos de pesquisas nas universidades de origem; na máximo, conseguiam  reproduzir modelos acadêmicos descontextualizados da educação profissional.  Naquele momento, eu só estava respondendo ao contexto político institucional (confusão de identidade, ausência de diálogo e medo).

No entanto, graças a uma resiliência que trago de berço, consegui reagir aos poucos. Naquela época, havia diretrizes nacionais para inclusão de uma política de extensão mais efetiva nos CEFET’s. Participei de chamadas públicas em uma área de educação (prevenção ao uso de drogas em escolas públicas) e em 2005 consegui aprovar o primeiro programa no PROEXTMEC, intitulado Programa Rede Viva que possibilitou novas experiências educacionais em todos os níveis de ensino do fundamental à pós-graduação. Estava consciente de que este seria um tema marginal no CEFET-PB, mas assumi a causa.

Nas acepções de Paulo Freire e Martin Buber a educação dialógica apresenta quatro dimensões: existencial, estética, política e pedagógica. Este era meu desafio: inserir uma temática que me foi apresentada, como apelo dos movimentos sociais, que trabalham com usuários de drogas e seus familiares, fundamentando esta proposta nestas quatro dimensões. Este projeto representou pessoalmente a unidade de sujeito intelectual e humano. Não tinha volta. Os resultados começaram a acontecer: mais de 80 estudantes do CEFET foram atendidos no primeiro ano em cursos de formação de multiplicadores da prevenção, além de vários educandos e educadores de outras escolas públicas de ensino fundamental e médio. A proposta já nasceu como um programa. Havia ações na mídia, nas comunidades, nas escolas e por 03 anos consecutivos renovamos junto o Programa Rede Viva, junto ao MEC.

Em 2008, o projeto começou a sofrer solução de continuidade. Dentre outros fatores, contribuíram para isto, o atraso na prestação de contas da gestão do professor João Batista como diretor geral do CEFET. Neste período, mesmo com o projeto em crise, foi nos oferecido uma sala para funcionarmos em melhores condições, até aquele momento estávamos em um espaço bastante improvisado. Para nossa surpresa em menos de um ano fomos convidados a nos retirar porque o bloco iria ser demolido. Quero crer que não foi proposital, a gestão não sabia do projeto de construção de um novo bloco naquele local. Em seguida, fomos deslocados para um espaço improvisado, sem sala, sem recursos, sem iluminação adequada, mesmo assim tentamos sustentar o programa com parcerias externas. Um recurso oriundo da SENAD- Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, para pagamento parcial de um curso de especialização, que estava em andamento com uma parceria com a UNIFESP- Universidade Federal de São Paulo foi devolvido, não encontramos uma forma de execução (o  procurador da Instituição, no final de 2009, reconheceu a impossibilidade de acesso ao recurso porque atrasamos demais as decisões).

Mesmo diante das dificuldades que se agravavam, resistimos e chegamos a nos tornar um Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Dependência Química (NETDEQ), com o apoio da professora Edelcides Gondim, que fez a defesa do projeto junto a Reitoria. Após às argüições cabíveis ao projeto, creio que pautada na experiência de trabalho que tivemos por quase um década na área de meio ambiente, o NETDEQ teve a sua Portaria emitida. Quero registrar que a Reitoria sempre teve reservas quanto a programas e projetos com fomento das políticas de pesquisa e extensão, o que foi verbalizado em várias ocasiões, inclusive com insinuações de necessidade de cuidado (zelo) com a “coisa pública”. Meu consolo, é que essa não era uma posição pessoal e nem como rejeição ao tema das drogas. Mas por um fator mais complexo em termos de gestão.

O problema era, naquele momento, e continua sendo, a marginalidade das iniciativas acadêmicas como parte do conflito existencial e identitário vigente na Instituição. Pois bem, após a instalação do Netdeq recebi o convite da assesssora do Reitor para liberar o espaço, que precisa ser ocupado com os novos setores criados. Nesta fase com o apoio da professora Edelcides Gondim fomos deslocados para a Pró-Reitoria de Extensão na Rua das Trincheiras. Não tínhamos muitas opções: ou ficávamos em uma sala improvisada, que a reitoria solicitava através da Assesssora, ou aceitávamos a proposta de mudança. Se o Netdeq estava vinculado à Pró-Reitoria de extensão nada mais coerente.

O que eu não entendia naquele momento, é que estava sendo deslocada para um setor que é meramente um apêndice da Instituição. Uma Pró-Reitoria sem recurso próprio, sem autonomia para cumprir o Plano de Trabalho, sem autonomia acadêmica ou financeira; todas essas dificuldades induziram a queda na participação estudantil no projeto, principalmente, em função do distanciamento do campus João Pessoa. Lamentavelmente, esta realidade nunca foi avaliada em uma reunião formal. Mas, o Netdeq sobreviveu ao processo de marginalização e secundarização. Foram produzidos quatro grandes eventos nesta área, o Núcleo formou 54 profissionais em curso de especialização, capacitou lideranças comunitárias, promoveu a discussão na mídia com mais de 50 programas de TV produzidos em três anos de articulação do jornalista Crisvalter Medeiros, que ousou fazer um trabalho de comunicação seguindo um modelo alternativo de informar e formar.

O Netdeq resistiu ao desgaste do processo político de 2010 e assegurou seu trabalho para 2011 participando de uma Chamada Pública, que estabeleceu o Centro Regional de Referência para Formação de Profissionais da Rede de Atenção aos Usuários de Drogas, e ainda continua sendo um espaço de produção acadêmica para estudantes do IFPB. Nunca deixamos de participar dos processos instituídos por editais de bolsas, tanto na Pesquisa como na Extensão. Atualmente, contamos com todas as dificuldades, inclusive de sucateamento da estrutura física, com seis bolsistas e quatro voluntários, que integram três projetos de pesquisa, sendo um de extensão e a construção de mais um TCC nesta área com a interface da Licenciatura em Química. Todo semestre fazemos relatórios de nossas atividades para a Pró-Reitoria de Extensão e a de Pesquisa.


Atualmente, nosso trabalho foi motivo de repercussão nacional, sendo envolvido em uma articulação com a SETEC, Ministério da Saúde (MS) e Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SENAD) para construção de cursos profissionalizantes nesta área.

Com essas práticas estamos construindo a ponte epistemológica que integra ensino, pesquisa e extensão. Buscamos, a todo custo, inclusive o de confrontos pessoais, fortalecer nos Institutos as ações da extensão acadêmica que encontra muita resistência para inserção em áreas de ensino tecnológico. Estamos participando de articulações junto aos movimentos sociais e de políticas públicas para dar visibilidade a causa do uso de drogas e seus problemas correlatos.  O CRR-IFPB, atualmente, ministra quatro cursos na área de extensão com a participação de 360 profissionais das Redes SUS e SUAS, projeto que integra uma Política Interministerial.


Esta prática da “educação humanizada” é gestada na compreensão ontológica daquilo que é meu sentido de vida como educadora. Se os Institutos não conseguem enxergar por esse ângulo, nem valorizá-lo, isto não afeta minhas convicções. Desta forma, assim como foi com a temática de Meio Ambiente, um processo difícil e sofrido para implantar em decorrência das resistências históricas da área de Tecnologia da Construção Civil também poderá ser com a área de promoção da saúde. Estas experiências anteriores deveriam estar sendo utilizadas na revisão de nossas práticas educativas para a construção de diálogos que tragam para a Paraíba o conhecimento que a sociedade necessita.

Esse exercício dissertativo tem, na verdade, o objetivo de relatar o seguinte episódio: Na semana passada publiquei uma foto minha integrando os participantes de um Seminário Nacional sobre Formação Técnica em Saúde que aconteceu em Brasília e para o qual fui convidada. No referido evento estavam presentes o Secretário Eliezer Pacheco e o Reitor do IFCe, presidente do CONIF, Ricardo Gomes e o Ministro da Saúde. O seminário articulou atores da educação em saúde para organizar um movimento nacional de implantação de cursos nas áreas de saúde em toda a Rede Pública e Privada de ensino Técnico e Tecnológico. Se fizeram presentes os Institutos do Ceará, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e outros que estão assumindo esta responsabilidade. Fui convidada para integrar este movimento. O convite não foi um privilégio, mas o reconhecimento pela consolidação do trabalho que venho desenvolvendo na Instituição.

A referida matéria de nossa participação neste evento foi publicada no blog “Dar voz a quem não tem” (www.aadvocacy.blogspot.com) na sexta-feira (02.09). Na segunda-feira fui convidada às pressas, como é prática da Pró-Reitoria de Extensão, para uma reunião. Foi uma convocação sem pauta e sem formalização instituição. Ao chegar na Pró-Reitoria fui surpreendida com uma “inquisição” à moda da idade média, articulada pela professora Edelcides Gondim, professor Guilherme Brito e a Coordenadora de Projetos de Extensão Olga Bezerra, que assumiram de imediato a função de meu inquisidores. A forma como a pró-reitora me abordou foi totalmente indigna de qualquer relação institucional. Ela afirmou acintosamente que “o Centro foi longe demais e precisamos fazer pontes com o Instituto”. Fui acusada por ela de não ter nenhuma ação com estudantes do IFPB, o que é uma inverdade. Num determinado momento da reunião, a Pró-Reitora ameaçou relocar o Centro de Referência do NETDEQ para uma Escola que tenha area de saúde. Esta ação, caso se concretize, será uma apropriação indevida da produção intelectual

Fui acusada pelo professor Guilherme Brito de não prestar informações à Pró-Reitoria sobre minha agenda, o que seria irrelevante pois se constituiria apenas em um tipo de controle disciplinar e não em apoio à produção acadêmica. O que falta na Pró-Reitoria são as reuniões sistemáticas para socialização das ações. A servidora Olga Bezerra, por sua vez, insinuou inadequação metodológica dos processos vigentes no Netdeq e recomendou que eu fosse aprender com o NUPES como fazer prevenção através do protagonismo juvenil.

Gostaria de dizer publicamente à professora Edelcides Gondim, e não em um ambiente confinado, da minha indignação pela falta de autonomia que ela, enquanto Pró-Reitora, apresentou na defesa dos processos institucionais da extensão, não conseguindo ser autora das suas próprias decisões.

Para o professor Gulherme Brito apresento minha indiferença ao movimento de Controle Disciplinar, não compactuo com esta postura porque estou em um ambiente educacional e não apresento situação de risco indisciplinar nas minhas atividades profissionais. Sou adepta do pressuposto pedagógico: não há um caminho para a transformação, a transformação é o próprio caminho da educação.

Desta forma, sugiro ao professor que repense suas práticas, pois todo educador precisa se atualizar revendo suas práticas. Acho que as posturas meramente disciplinadoras são improdutivas, valorizo a relação dialógica nas atividades educacionais; ao invés de vigiar e punir, estimular e e produzir. Com relação às acusações de ações dissimuladas, sou totalmente transparente divulgando todas as minhas iniciativas.
Com relação às colocações de Olga, considero que ela não conhece em profundidade nosso trabalho. Deixo uma sugestão em reconhecimento ao seu potencial: não julgue o que não conhece. Procure se informar melhor sobre os processos e metodologias adotadas no Netdeq.

Finalmente, reconheço a minha emotividade diante de processos autoritários, contrangedores e repressores ao quais fui submetida na reunião do dia 05 de setembro, na Pró-Reitoria de Extensão do IFPB, pela equipe gestora, coordenada pela professora Edelcides Gondim.

Mas, reafirmo racionalmente tudo que foi colocado de forma emotiva naquele momento. Continuo me sentido indignada e assediada pelo episódio, mas entendo que ele é importante na construção de um novo projeto institucional que não fará sem conflitos entre visões educacionais e de processos administrativos.

O IFPB vivencia um momento de discussão da democratização das suas relações institucionais pelo movimento dos servidores, através da sua entidade representativa. Seria o momento também de se buscar novas formas de relacionamentos interpessoais, superando o modelo repressor que se estabeleceu ao longo de muitos anos na Instituição, já que este modelo é inadequado ao processo criativo necessário a uma educação inclusiva e de qualidade.