sábado, 19 de fevereiro de 2011

MISSÃO DADA É MISSÃO CUMPRIDA – UMA REFLEXÃO SOBRE HETERONOMIA, AUTONOMIA E ONTONOMIA ACADÊMICAS

Presidenta Dilma Rousseff e a professora Vania Medeiros, em um abraço caloroso
 
Quero, a partir de conceitos da transdisciplinaridade, refletir o que vem acontecendo nos processos acadêmicos no IFPB que, inclusive, possibilitou a minha estada em Brasília em uma reunião de trabalho com a primeira Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Participei, recentemente, do Seminário de Implantação dos CRRs (Centros Regionais de Referência para Formação de Profissionais da Rede de Atenção aos Usuários de Drogas e seus Familiares). A classificação em uma Chamada Pública nos incluiu como espaço de implantação de um dos 49 centros em todo o país.

Friaça, em sua obra “Educação e Transdisciplinaridade”,  define três formas de relações entre os indivíduos (nas instituições sociais): a heteronomia, a autonomia e a ontonomia.  Em primeiro lugar o autor define a heteronomia como um processo onde a relação se estabelece pelo que vem de fora e é dependente do exterior ao sujeito. Neste tipo de relação às tradições se impõem aos membros dessa cultura (acontece nas sociedades tradicionais – primitivas e medievais). A vida das pessoas está constantemente subordinada a essa tradição. Não existem escolha nem vontade do sujeito no processo social. O que é tradição define a ação do sujeito.

O encontro com Dilma Rousseff não foi determinado por este tipo de relação. Se esta ação fosse resultado do que é Tradição no Fazer Educação Tecnológica certamente não haveria a determinação nem a disponibilidade de recursos institucionais para a viagem. Não faz parte do cotidiano do IFPB o ensino nas Ciências Humanas, embora já tenhamos cursos regulares como Bacharelado em Administração, o Técnico em Música e Licenciaturas. Investir em ações que possibilitem a implantação de outras áreas do ensino não é a “prioridade institucional”.

Friaça ressalta, em segundo lugar, que a autonomia é um conceito novo, onde a determinação individual, as leis e as regras são auto-instituídas. Na filosofia Kantiana (que inspira a autonomia) o conceito de liberdade tanto tem sentido político como metafísico, sendo concebido como o livre arbítrio. Na autonomia, a liberdade é propriedade da vontade que só é livre quando se auto-determina. No entanto, na autonomia, a consciência de quem age é estreita porque a vontade do indivíduo é colocada no centro de tudo, e mais grave ainda, essa vontade individual surge por uma indução do Marketing e Propaganda, e o indivíduo nem se apercebe disso.

Desde quando começamos o trabalho na área de drogas, em 2005, tivemos que nos posicionar com perseverança contra a heteronomia que conduzia as relações individuais no âmbito institucional. O pensamento tradicional de que a formação nesta área não dizia respeito ao então CEFET-PB (atual IFPB) foi permanentemente sentido nas restrições sobre a validade da ação em uma nova área do conhecimento. Hoje, refletindo, a partir de Friaça, vejo que esta atitude não representou, de minha parte, uma autonomia acadêmica, uma vez que não foi conduzida pelo livre arbítrio, nem pela liberdade da auto-determinação. 

Naquela época se iniciava práticas orientadas por concepções de inclusão de novas temáticas e o diretor de extensão, na época Professor Adriano, em processo de seleção de projetos institucionais a serem enviados para a Chamada Pública do PROEXT, com sua equipe, escolheu nosso projeto para solicitação de financiamento (O Programa REDE VIVA). Ele fora aprovado e começamos um trabalho institucionalmente. 

Vale destacar também que não houve uma ação influenciada por um Marketing ou Propaganda, ao contrário, havia muito preconceito e sentimentos de insegurança no ambiente institucional, e fora dele, acerca dos trabalhos com esta temática. Concluo, portanto, que não foi a autonomia acadêmica que incluiu o nosso trabalho nas Políticas Educacionais Nacionais e que me levou ao encontro com Dilma Rousseff.

Em terceiro lugar, Friaça escreve que na ontonomia a subjetividade e a intersubjetividade se articulam, as escolhas são exercidas efetivamente pelos sujeitos porque as consciências foram despertadas a refletir profundamente sobre: o papel do homem na terra, a relação consigo mesmo, com o outro, com o Cosmo, e principalmente, sobre o caráter sagrado e sua tríplice natureza composta de corpo, alma e espírito. A ontonomia que conduz as ações fundamenta-se na ideia de que aquilo que o EU experimenta como mais próprio e pessoal não é originariamente uma posse, mas uma inspiração recebida dos outros, como um dom; portanto, o ser humano se constitui numa relação que diversifica sua ação. Friaça acrescenta, ainda, que nas práticas transdisciplinares o sujeito  assume a sua humanidade transcendente  e assim descobre a energia criadora do mundo, que brota de uma plenitude, o sagrado de sua vida e, por causa disso, assume corajosamente a responsabilidade perante o planeta e todos os homens. “Tudo começa  pelo direito do outro  e por minha obrigação infinita a este respeito”.

Acho que foi isto que me levou até Brasília. Uma convicção pessoal de estar atendendo ao direito do outro (o usuário de drogas e sua família tem o direito de ter a sua disposição um profissional capaz de compreender seus problemas com habilidades técnicas e humanas para auxiliá-los em sua recuperação).
Ter chegado próximo à Presidenta Dilma Rousseff, foi o resultado de algo além da minha capacidade de obedecer, e de cumprir a tradição do ensino ao qual estávamos acostumados (nas relações da heteronomia). Ou do propósito de fazer o exercício da autonomia acadêmica (aquela que se inspira em um desejo individualista de ver sua vontade ser realizada, como fui acusada algumas vezes neste processo, devido às iniciativas desvinculadas da tradição institucional e das ordens hierárquicas).

Ao ver a Primeira Presidenta do Brasil, ali, bem perto de mim, no momento em que ela afirmava: “Estou assumindo um compromisso com o povo do meu país”, ao mesmo tempo em que solicitava o empenho das instituições de ensino superior nesta ação estruturante do problema das drogas (a formação de profissionais da rede SUS e SUAS para uma atenção eficaz aos usuários de drogas e seus familiares), fiquei emocionada. Ao ser convocada pela presidenta para esta missão, juntamente com todos os presentes à reunião, compreendi que o privilégio de vivenciar aquele momento foi viabilizado pela minha ontonomia e é ela que rege  o meu exercício acadêmico (A convicção espiritual que me impulsiona a assumir a responsabilidade por aquilo que o Outro necessita, ou seja, uma profunda convicção de  alteridade). Todas as dúvidas acerca do meu papel no processo de inclusão de novas temáticas curriculares do IFPB foram dissipadas.

Outra experiência forte do evento, foi ouvir dos Ministros da Saúde e da Educação, presentes à reunião que:  “Missão dada é missão cumprida”. Fiz destas, as minhas palavras. Fiz questão de retornar com um testemunho da minha participação naquele momento histórico: uma foto com Dilma Rousseff, a Primeira Presidenta do Brasil, e na qual eu votei com muito orgulho.

Compartilho com todos aqueles que contribuíram, em algum momento, com a REDE VIVA, o NETDEQ, e agora o CRR-IFPB. Quero, também, compartilhar com vocês o nosso desejo de que o caminho percorrido até aqui, não sofra solução de continuidade em decorrência de entraves  burocráticos e processos administrativos anacrônicos.

Vania Maria de Medeiros

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A IMPORTÂNCIA DO RESGATE DO DEBATE NO IFPB

Professor Ilton Barbacena quer retomar normalidade democrática no IFPB

Um dos três pilares da Transdisciplinaridade propostos por Basarab Nicolescu é a lógica do terceiro incluído. Esta nova lógica defende que duas identidades ou lados contraditórios possam coexistir e sugere que a unidade entre eles (a terceira identidade) seja fundamentada em uma tensão que promova uma ampla inclusão. O terceiro incluído é, portanto, a unidade dos contraditórios. Tem sido este meu exercício – aceitar a contraposição e acreditar que ela é a base sólida de crescimento coletivo.

Refletindo esta nova ordem tenho me incomodado com alguns discursos e práticas de gestores do IFPB que defendem a unidade institucional sustentada em um clima de ausência de conflitos e tensão que a meu ver só enfraquece o IFPB.  A este projeto de “falsa unidade ou unidade forçada” a comunidade responde com o silêncio.

Nestes últimos dias, o processo de sucessão na Coopercret - Cooperativa de Crédito dos Servidores do IFPB - cria a possibilidade de uma tensão que poderá gerar um amplo debate no IFPB.

O Professor Doutor Ilton Barbacena enviou-me um e-mail que trata do processo sucessório na Coopercret (Cooperativa de Crédito dos Servidores do IFPB ) para a renovação dos conselhos fiscal e administrativo para o próximo quadriênio. Como relatou o professor Ilton, o conselho de administração atual elaborou o regulamento eleitoral em curso e aprovou-o sem convocar uma assembleia geral para aprovação das referidas normas usando de uma  manobra que favorece o atual grupo gestor da cooperativa. Ilton está contestando a prática excessiva e reivindicando que as normas que regerão o processo sejam aprovadas em assembleia geral dos cooperados.

Vejo que a expressão de insatisfação e a reivindicação feita pelo Professor representa a opinião de boa parte dos cooperados que se incomoda com esta prática autoritária. Incapacitar os outros a assumir papéis importantes na comunidade é uma antiga manobra de dominação e de autoritarismo que está muito presente no IFPB, não apenas na Coopercret. Quando se pensa que só um grupo tem a eficiência e a seriedade de atuar excluem-se todos os outros. E aí surge o sentimento de não pertença que gera apatia e desinteresse.

A principal importância da ação do professor Ilton, que voltou recentemente de um curso de doutorado, é contribuir para a quebra da apatia nos processos educacionais e o marasmo político que se estabeleceu  na instituição nos últimos anos.

Desta forma, o professor Ilton Barbacena conta com o nosso total apoio, tanto para esta iniciativa, como para outras que pretenda democratizar as relações administrativas dentro do IFPB.

A saída para esses problemas de apropriação dentro da instituição é começar a acreditar que o IFPB pode retomar o clima de efervescência política que marcou a sua história. Os confrontos pautados na ética e na vontade de construir um espaço público coletivo, com o objetivo de desapropriar a educação tecnológica e dar um fim à experiência do autoritarismo reinante no IFPB, só trará benefícios para a qualidade das relações interpessoais na instituição e melhoria da educação tecnológica praticada na Paraíba.

Por Vania Maria de Medeiros (professora do IFPB)


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