Crisvalter Medeiros
O Conselho Superior do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (CONSUPER-IFPB) protelou, mais uma vez, a aprovação do processo que reivindica o direito à progressão funcional por capacitação para os técnico-administrativos da Instituição. A reunião que analisou o referido processo e que aconteceu na última sexta-feira (21), no auditório José Marques, Campus João Pessoa, teve a plateia esvaziada e sem a mesma força de mobilização da anterior, que aprovou a progressão funcional dos professores.
Na reunião foi consolidada a tutela docente sobre o processo da progressão funcional dos técnico-administrativos. A decisão causou frustração na categoria que esperava ser tratada com a mesma diligência dispensada aos docentes.
A relatoria do processo reivindicando a progressão por capacitação para os técnico-administrativos no CONSUPER demonstra o nível de corporativismo vigente na instituição: o processo da progressão docente foi aprovado sem muitas delongas, já a reivindicação dos técnicos promete ser uma novela sem fim.
Negar o benefício da progressão por capacitação aos técnicos é uma visão estigmatizadorae preconceituosa sobre a categoria. A postura dos conselheiros demonstra o sentimento de secundarização com esse segmento dentro da instituição, desestimulando os novos servidores que estão ingressando atualmente no IFPB, além de negar a própria natureza educacional da instituição.
As argumentações sobre o processo parecem mais um debate parlamentar do que uma arguição em um conselho superior de uma instituição de ensino.
Negar o direito à conquista da progressão funcional pelo esforço da aquisição de saber para o aprimoramento do conhecimento é negar a máxima de que os educadores precisam se reeducar constantemente. É negar o valor do conhecimento em uma instituição cujo objetivo primordial é educar; em suma, é desumanizar a relação institucional com os técnico-administrativos.
A tutela na relatoria do processo da progressão por capacitaçãotenta desmoralizar a categoria dos servidores técnicos, impingindo ao segmento a sensação de desqualificação para se auto representar. Como se não bastasse, ainda tripudiam da situação estendendo as decisões para fazer proselitismo político visandoa futuros pleitos sucessórios na instituição. É essa a relação histórica que tem marcado a convivência entre servidores técnico-administrativos e docentes dentro das instituições de ensino superior do Ministério da Educação.
Essas instituições não conseguem incluir o segmento técnico-administrativo nos processos pedagógicos e acadêmicos institucionais, considerando-ocomo mera função de apoio, ou de colaboração, salvo em raríssimas exceções. Os profissionais de nível superior, mesmo os que são portadores de pós-graduação são inseridos, mas jamais incluídos, nesses processos acadêmicos.
A escola repete o padrão de exclusão, desigualdade e injustiça social vigente nas sociedades capitalistas. Vale salientar que esta não é uma peculiaridade das escolas, é uma característica das instituições públicas brasileiras em geral. Vejamos: nas instâncias jurídicas, os juízes têm privilégios sobre os demais operadores da justiça; nos hospitais, os médicos exercem autoridade sobre enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais. Nas escolas os professores ensinam, enquanto os técnicos servem de apoio a essas atividades. Desta forma, impõe-se a visão da hierarquização dos saberes que permeia a nossa realidade cultural e educativa.
É de bom alvitre, entretanto, reconhecer que a discriminação com os servidores técnicos nas instituições de ensino profissionalizante ainda é menor do que em outras instituições de ensino. Nas Universidades, por exemplo, onde a grande maioria dos professores é composta de doutores e pesquisadores, a situação do distanciamento entre os dois segmentos é abissal.
Lamentavelmente, a situação nos institutos caminha para se equalizar a das universidades. A prova é a tutela que está acontecendo com o processo de progressão por capacitação dos técnico-administrativos no CONSUPER do IFPB.
A saída para o problema é acabar com a tutela docente sobre os técnico-administrativos. O segmento deve lutar por capacitação em todos os níveis, principalmente na área da pós-graduação, além de reivindicar inclusão nos processos acadêmicos institucionais nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.
Dou um exemplo prático: seria mais producente para essas instituições se o técnico, com capacitação adequada, evidentemente, pudesse ser incluído nos processos administrativos e pedagógicos, através da realização de projetos integralizadores, exercendo com criatividade o seu trabalho sem a segmentação e a hierarquização de papéis. Isto democratizaria as relações entre os segmentos dentro das instituições de educação que carregam, ao longo dos anos, a visão pejorativa do autoritarismo.
Por enquanto, resta-nos o constrangimento da tutela, do sub-aproveitamento e da falta de oportunidades que também garantam a nossa projeção acadêmica dentro das instituições educacionais, principalmente daquelas que se caracterizam pelas práticas do ensino, da pesquisa e da extensão.