terça-feira, 16 de agosto de 2011

O PRONATEC E A CIÊNCIA DE CRISTAL


Por Crisvalter Medeiros



O meu mundo não é o das redomas de cristal dos departamentos de pós-graduação das academias brasileiras. O mundo no qual coabito é o dos jovens das periferias urbanas que foram excluídos de um sistema educacional inadequado, que se entregam ao uso de drogas e à exploração desumana do narcotráfico.  É o mundo dos notívagos catadores de lixo, das adolescentes que expõem os seus corpos à venda nas madrugadas frias das esquinas de qualquer cidade, por falta de uma oportunidade para exercer uma atividade produtiva.

É esse o mundo que eu vejo crescer assustadoramente no nosso País. Um mundo que está fora das cogitações das intervenções sociais das teses acadêmicas pasteurizadas. As universidades ensinam a pensar, mas esquecem de ensinar a agir. O Brasil já conta com um estoque de 53 mil mestres e doutores. O lamentável dessa estatística é que o crescimento desse segmento parece ser proporcional ao aumento da miséria, da exclusão, da prostituição, do encolhimento do mercado de trabalho, do uso de drogas e da dizimação dos nossos adolescentes nascidos nas periferias dos grandes, pequenos e médios centros urbanos.

Não podemos mais nos dar ao luxo das elucubrações acadêmico-científicas, já é hora de agir. Essas reflexões à titulo de introito tem o objetivo de fazer a defesa do PRONATEC, projeto que está em tramitação no Congresso Nacional (com votação prevista para amanhã-17), que pretende fazer uma revolução na educação deste País, a partir do ensino técnico profissionalizante.

O Pronatec, dentre outros objetivos, procura criar a cultura da formação técnica para o exercício de qualquer atividade profissional, do gari à pós-graduação profissional, promovendo uma inclusão social jamais vista na nossa história. É também a oportunidade de consolidar os novos institutos de educação profissional, criados recentemente a partir das antigas escolas técnicas, com a inserção efetiva da extensão e da pesquisa nessas instituições. Isto vai criar uma novo sistema de ensino que começa pelos cursos de extensão de curta duração e se projeta às alturas da pós-graduação, criando novas áreas de formação profissional. É um projeto que comove até o mais petrificado coração.

Infelizmente, tem gente contra a implantação do Pronatec. Quem são essas pessoas? Tenho a impressão que são os doutores-mandarins forjados nas artes das vaidades científicas das bancas de prós-graduação das nossas universidades elitizadas.

Só para lembrar: os mandarins formavam uma classe social, na Antiga China, constituída por bacharéis, licenciados e doutores. Esses profissionais serviam ao Estado nas áreas civil e militar, com ingresso através de concurso público. No entanto, o ingresso nas acadêmicas para a formação desta classe, era um privilégio só concedido a alguns escolhidos.

Parece que os nossos acadêmicos continuam querendo ser mandarins; o problema é que não tem a quem servir, pois nem mesmo o Estado quer mais esse tipo de serviçal atuando na educação.

No entanto, para toda regra existe exceção. Há doutores e doutores. Existem aqueles que o são por vocação para a educação e a pesquisa, e não apenas pelo exercício frívolo e egoísta das vaidades e dos interesses pessoais.Destes nós precisamos, esses nós defendemos.

O Pronatec oferece a oportunidade para os educadores da Rede de Educação Profissional e Tecnológica, doutores ou não, que querem contribuir com o processo de mudança na nossa sociedade, desenvolver as suas habilidades e competências.

O projeto também oferece a oportunidade de inclusão de servidores técnico-administrativos nos processos educacionais, evidentemente, sob a orientação de um professor capacitado; bem como o retorno de aposentados que ainda querem dar sua contribuição à educação e tem condições físicas para enfrentar a labuta.

O Pronatec, ainda, traz uma visão atualizada da educação profissional oferecendo, inclusive, a oportunidade de se criar um sistema de produção científica e tecnológica (básica e aplicada) a partir de demandas sociais; o que seria outra revolução na educação deste País. Esse sistema também serviria para capacitar a rede endogenamente. Não quero me arvorar em dono da verdade, mas as minhas convicções pessoas e profissionais me dizem que este é o caminho, que a partir desse projeto, que quer reformar a educação profissional, poderemos começar a pensar que a nossa juventude, principalmente aquela de origem mais humilde, terá um futuro garantido

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